segunda-feira, 7 de julho de 2008

Era uma vez...


Quase que todas as histórias começam por "Era uma vez...". Esta não vai ser excepção.


Era uma vez uma criança, uma menina, que vivia triste por não ter um irmão ou irmã. Os primos mais próximos todos tinham um mano ou mana para brincar. Esta menina não tinha. Brincava muito com os primos em casa da avó. Principalmente com a prima S. e o primo G., que eram apenas cerca de 2 anos mais novos. Mas o que ela queria mesmo era um irmão. Aliás, ela até gostava era de ter outra menina em casa para poder brincar com ela.

No entanto, os anos foram passando, a menina foi crescendo, tomando (talvez até de uma forma precoce) que a vida era difícil naqueles tempos em que os pais trabalhavam ambos na mesma fábrica, onde começaram a existir alguns problemas económicos.

Como estava a contar, os anos foram passando e não chegou nenhum mano ou mana.

Essa menina cresceu, mentalizou-se que não haveria de ter a desejada companhia e foi aí que começou a entender que nem sempre as coisas podem ser como queremos.

Um dia, quando essa criança já estava crescidita e com cerca de 11 anos, veio a notícia. A família iria aumentar. Mas depois de tantos anos à espera, depois de ter-se conformado que tal não haveria de acontecer e depois de ver os pais passarem por problemas financeiros devido ao facto da fábrica ter salários em atraso, a reacção dessa menina (que sempre foi demasiado racional) foi dizer: "E então depois há dinheiro para lhe comprar comer?". Recordo que essa criança tinha cerca de 11 anos, sempre foi muito racional e sempre tomou consciência de que a vida é difícil e que a vinda de mais um elemento para a família ainda iria tornar tudo mais complicado. Mas como é óbvio, vindo de uma criança de 11 anos, essa reacção não poderia ser tomada como uma negação em relação à vinda do bébé. Mas foi.

O pai e a criança gostavam que viesse outra menina e ficaram contentes quando o médico confirmou que assim seria. A mãe nunca se convenceu, sempre acho que viria um pilas.

Os cerca de 9 meses passaram. Neste caso, passaram quase 10 meses. O bébé não dava sinais de querer nascer. Até que os pais foram à maternidade Alfredo da Costa. O bébé teve que nascer de cesariana. Mais umas horas e não teria sobrevivido. E o bébé que, conforme o médico tinha dito, deveria ser uma menina (Soraia tinha sido o nome escolhido), acabou mesmo por ser um pilas!!!!!

Faz hoje 21 anos que ele veio ao mundo. A mana mais velha, que ficou um pouco triste por afinal não ter uma mana, viu-o com poucas horas de vida. Dentro de uma incubadora, com o cabelinho rapado, 2 agulhas espetadas na cabeça a injectar qualquer coisa, e com a cabeça ainda dentro de uma outra "caixa". Tão pequenino, tão indefeso. Com um nariz pequenino mas muito bonito. Ele ficou assim cerca de uma semana até os médicos terem a certeza de que ele estava bem e que podia ir para casa.

21 anos se passaram. Hoje esse bébé de olhos grandes, pestanas bonitas e nariz pequenino cresceu. Fez-se homem... mas para a mana mais velha continua sempre a ser o puto que gostava de fazer estradas no chão com carrinhos e armar-se em mecânico quando brincava com o triciclo.

Os 21 anos poderiam ter sido melhor passados, mas aquela frase dita há 21 anos e tal atrás não deixou que assim fosse. Para os pais, principalmente para a mãe, ela sempre rejeitou o irmão e ele passou sempre a ser o protegido e também o preferido lá em casa. Será que os pais, adultos, não souberam reconhecer a ingenuidade daquela pergunta que ela fez quando tinha apenas 11 anos? Não, não foram.

21 anos passaram. Algumas discussões, algumas injustiças também se passaram. A atitude dos pais conseguiu fazer com que irmã e irmão tivessem uma barreira indivisível que não os deixava aproximar verdadeiramente.

A mana sempre se culpou por ter dito aquela frase. Sempre se culpou por não ter sabido exprimir de outra forma as suas preocupações. Mas também sempre lamentou o facto de os pais não a terem entendido...

A menina desta história sou eu. O menino é o meu irmão D., que hoje completa 21 anos e a quem eu desejo um Feliz Aniversário.

Não somos capazes de demonstrar o que verdadeiramente sentimos um pelo outro. Eu preocupo-me bastante com o facto dele ter deixado de estudar sem ter terminado sequer o 12º ano. Mas também já não sou capaz de o tentar chamar à razão, quando vejo que os meus pais aprovam a escolha dele.

O que quero dizer, mesmo que não lhe consiga dizer a ele, é que eu adoro o meu irmão, preocupo-me imenso com ele, acho que até me preocupo demais, e parece que devido à diferença de idades tenho uma espécie de sentimento maternal para com ele.

Talvez um dia os meus pais venham a entender que eu sempre gostei do meu irmão e que não consigo imaginar como teriam sido estes últimos 21 anos se ele não existisse. Talvez eles também venham a entender que cometeram algumas injustiças para comigo.

Mas hoje isso não importa.

D., a mana quer dizer que gosta muito de ti e que te deseja tudo de bom para ti. E estou sempre pronta para te ajudar, quando precisares de mim. Que tenhas um dia muito feliz!!!!!



16 comentários:

Cláudia disse...

Muitos parabéns D!
Quanto a ti...nem sei o que te diga!
Mas conseguiste superar :)

Beijo grande

Van Dog disse...

Muitos parabéns!!
(parece-me bem que estás tão a tempo de lhe fazer saber isso!... relação entre irmãos, por muitos percalços que tenha é sempre especial - é sempre um apoio para a vida...)

as velas ardem ate ao fim disse...

O que interessa é o que sentimos!Tu gostas do D. e isso é o amis importante.

bjo

Blue Angel disse...

Quando a barriga da minha mãe começou a aparecer, eu tinha 4 anos e fiquei muito feliz! Queria que fosse uma menina e quando ela me disse que sim eu fiquei delirante! Fazia festas á barriga e colava lá as orelhas para a ouvir! Eu recordo-me de algumas ciosas dessa altura! Tudo bem até ao dia em que ela nasceu e veio da maternidade.
Como era muito doente, ela era o centro das atenções. Eu queria colo, mas a minha mãe tinha de cuidar dela, eu queria que ela me ajudasse a comer, mas tinha de ser outra pessoa qualquer, porque a minha mãe tinha de cuidar dela.
Criei dentro de mim um ódio á minha irmã que até a nível psicológico regredi. Quando comecei a dizer que me matava (com uns 6 anos) a minha mãe apercebeu-se que eu não estava muito bem e fui para um psicólogo. Ele ajudou-me bastante porque me soube explicar o que ninguém me tinha explicado. Que ela era muito doente e precisava mais de atenção e cuidados.

Por isso, quando tiver outro filho, vou ter muita atenção para nenhum deles passar por isto.

E é claro que adoro a minha irmã e somos grandes amigas!!! No meu caso não deixou nenhumas sequelas...pode ser que as tuas se vão atenuando com o tempo e a idade!

Um beijo

Nivea

Um beijo

Nivea

Belzebu disse...

Era bom que ele pudesse ler isto e melhor ainda seria ouvir da tua voz, certas coisas que aparentemente são difíceis de serem ditas. Pelo menos tenta, pois entre irmãos não há nada que seja irremediável!

Aquele abraço infernal!

Cátia disse...

Parabens ao D, e parabens a ti pela pessoa que és e que aqui tao bem demonstras. Fiquei mt sensibilizada carracinha. Desejo-vos tudo de muito bom.

Beijinho

Lu.a disse...

:D
MUITOS PARABÉNS mano da Carracinha!

:)

Lu.a disse...

Eh pá, agora é que vi que tenho um desafio para responder... :)

Vai ser já amanhã, se não esqueço-me :S

Rute disse...

Parabéns ao teu mano. Adorares o teu irmão é o mais importante, não fiques triste com coisas passadas, vive o presente :) vais a tempo de dizeres o que sentes;)

beijinhos grandes

mjf disse...

Olá!
Carracinha diz ao teu irmão os sentimentos lindos que tesn para com ele...não deixes arrastar esse mal entendido por mais tempo, são os dois adultos, diz-lhe o que sentes...pois entre irmãos deve haver comunicação e partilha!!!
Nunca é tarde para emendar o passado...
Parabéns aos dois


Beijocas linda

Uwish4 disse...

Olá minha linda amiga. Sabes fiquei sensibilizada com o que li... acho que finalmente alguém consegue realmente entender exactamente porque não consigo ter uma relação com a minha irmã...

Os nossos pais treinaram-nos para sermos rivais, pensando que isso nos faria mais fortes na vida. Sim, utilizei a palavra treinar porque em tudo se assemelha às lutas de cães...

Ao fim dos anos já nem lutavamos... simplesmente habituamo-nos à ideia de que não nos conseguimos compreender nem entender nunca... e o afastamento foi de tal ordem que vivemos no mesmo país (Irlanda) e não sabemos nada uma da outra.

Confesso-te que ambas, eu também, preferimos assim. Somos simplesmente demasiado diferentes.

Beijinhos.

PS: acredito que as coisas com o teu irmão não tenham chegado a este ponto. estava só a partilhar um pedaço de mim, ctg.

CAP CRÉUS disse...

Olha por experiência própria, acho que ainda estás a tempo de demonstrar ao teu Irmão o que sentes e o quanto te preocupas com ele e com o seu futuro.
Não deixes passar muito mais tempo, aproveita!
Bjos

Papinhas disse...

Olha carraçinha, eu acho que um dia ainda vais conseguir dizer olhos nos olhos que o adoras e a importância que ele tem na tua vida, mas o facto é que nós seres humanos somos seres bastante complicados, e isso por vezes mesmo conscientemente faz-nos infelizes! O orgulho e a revolta são caracteristicas que tambem nos fazem falta para enfrentarmos alguns azedos da vida, mas eu acho que acima de tudo temos de saber perdoar e ceder, ainda mais quando se trata de familia, sangue do meu sangue!
...E as vezes quando damos conta já é tarde, e ai vem o arrependimento, por isso te digo, faz o que achas que tem de ser feito para que um dia não te arrependas de não o ter feito! Vais ver que te vais sentir bem contigo própria e mais feliz!

Beijocas

GK disse...

Espero que passados estes anos todos encontrem forma de se aproximar.
Feliz aniversário para o teu brother.
Bjs.

Anónimo disse...

Eu nasci nove anos depois da minha irmã, isso não ajudou na nossa relação, demorei a vê-la sem ser a "espiã do inimigo". Temos experiências tão distintas que foi dificil tornarmo-nos amigas. Sempre a adorei, sei que ela sempre me adorou, mas foi preciso eu ficar adulta para ficarmos amigas.
... Eu fiquei adulta já bem depois dos 21! ;)
Acho que percebeste o que te disse. ;) Ainda há muito tempo. Diz-lhe isto como prenda de aniversário.

Beijinho enorme!

(Não emigrei... são AINDA os problemas técnicos!) :D

Safira disse...

linda, já tinha escrito um comentário enorme na 4ª feira, mas quando fiz o publicar, pftt...sumiu-se no éter. Fiquei tão furiosa que só hoje é que voltei. A ver se é desta... ;)

Dizia eu, há três dias atrás, e resumidamente, que o teu mano tem muita sorte em ter uma mana assim, que se preocupa com ele, e que tem esse peso de 21 anos de afectos desencontrados tão presente. Há que aproveitar para deixar o moço perceber isso. Fala-lhe disso...calmamente. Convida-o para ir jantar fora e reencontrem-se! o resto virá por si... Olha que é um conselho de amiga. Como dizia o Van Dog, é um apoio para a vida.
Um beijo grande